Alguns haicais brasileiros sobre o inverno – e outros temas

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Haicai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil por volta de 1920 e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros.

Para ser um verdadeiro haicai o poema deve obedecer a quatro regras:

Ser composto por 17 sílabas japonesas

Estar formado por três versos de 5, 7 e 5 sílabas

Referir-se a um fato da natureza

Apresentar o fato como acontecendo no momento e não no passado

Na transposição do haicai para outros países, algumas regras se perderam ou não foi possível adaptá-las. No Brasil, o haicai conserva os três versos mas nem sempre mantém o número de sílabas indicado. Em geral preserva-se o tema, relacionado à natureza.

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Ilma Soraia

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Manhã de frio.
Na janela embassada
seu nome está.

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Noite fria,
penso em ti e esquento
meu coração só.

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Igor

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Esta humanidade
Está longe de ser uma
Unanimidade

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Rubens Jardim

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Reflexão

Sou casca no chão
Sou raspa de pote
Sou minha insurreição!

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Coração do Mundo

No pulso da palavra
sinto bater
o coração do mundo

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Caio Yokoyama

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Um só toque

A profundeza
dum prato envelhecido
com sabedoria

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Sérvio Lima

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Debaixo das folhas
formigas se agasalham
frio de inverno

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O crisântemo branco
ainda que pisado
é crisântemo branco

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Erni Pescador

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Inverno!
Lenha empilhada,
branquinha de geada.

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Danielli Rodrigues

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Ventos

No meu pensamento —
Há vida desconhecida.
Sinto tua presença.

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Wagner Marim

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O amor desvendara
num indelével inverno
o célebre enigma.

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Kirah

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O grito é mudo
o olhar no entanto
Diz tudo!

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Augusto Menezes

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Garoto fuma crack
Na esquina, um baque
Policiais combatem o crime.

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Alexander Pasqual

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Circulam iPods
nas órbitas do haijin —
balada no bosque

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No alto de um cipreste
ave branca contra o sol
recorda o Natal

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Fabiano Vidal

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Manhã de inverno,
ouço calado
o vento gelado.

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Paulo Franchetti

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Manhã de frio —
Apoiado num só pé
O papagaio dorme.

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Antonio Botelho Focinheira

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Navegar é preciso

Se viver não é preciso,
sem lemes ou astrolábios
navego bem em teus lábios.

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Antonio Malta Mitori

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Tarde de inverno
O por-do sol sumiu
em meio a poeira

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Alex Hard

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Ridículo anuncia
Sua diversão
Ressoa Indignação.

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Irmãos, poucos
Loucos, santo
Tantos, solo.

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Nanu da Silva

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No meu Hay kay
A matemática poética
Vira apoética

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Paulo Ciriaco

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Domingo,manhã de inverno.
Muitos pombos
Pousam no pátio.

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Reneu do A. Berni

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Haicai de inverno

A mocinha tímida
abre um sorriso faceiro—
correio elegante.

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Silvio Gargano Junior

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Ah, dama da noite
Tempo distante não volta —
Saudade, saudade

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Silvia Rocha

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Medo no coração
tirito
a mais fria estação

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Kiyomi

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Tempo imprevisível
Me pegou desprevenido
Que frio congelante!

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Rogerio Viana

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Pelo calor de agora
pinhão no inverno
— quente, quentão

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Manu Hawk

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Inverno frio
corpos soltos ao luar
ondas quentes

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Rogério Togashi

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Sempre lembrando
a cama, o jovem aluno:
segunda de inverno!
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Vento na cortina:
Na tarde de inverno
melancólicos haicais.

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Folha branca
sem palavras, sem desenhos —
Frio de agosto. *

(*Inverno brasileiro: junho – setembro)

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Marcellino Lima

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O gato se estica,
boceja, retoma o sono –
Assim vai o domingo!

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Valdir Payceré

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Café-da-manhã,
bem-te-vis gritando:
que bom acordar!

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Claudio Daniel

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Ese canto
é azul, azul, azul
quase branco

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Carlos Martins

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Passando o Ano Novo
com minha filha, na estrada —
mochilão nas costas

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Douglas Eden Brotto

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Noite de Ano-Novo!
velho avô traz o champagne
mas dorme antes da hora…

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Rosa S. Clement

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O canto dos sapos
era nossa canção de ninar;
fim de inverno

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Mak

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Eu te amo tanto
que só um pranto
acaba o encanto

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Alexandre Brito

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Depois de horas
nenhum instante
como agora

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Agradecimentos a CAQUI: Revista Brasileira de Haicai

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